quarta-feira, 23 de julho de 2014

Apagão literário

O mês de julho costumava ser mais feliz, mais festeiro, mais amável. Não sei se por conta dos resquícios das festas de São João e também pelas tão esperadas férias, o mês significava muito para várias pessoas. Um mês neutro. Um mês nem fede nem cheira. Por mim, julho passava os seus trinta e um dias rápido feito um foguete entrando em órbita.
Mas desta vez está sendo diferente.O mês nem chegou na sua última semana e várias coisas têm acontecido. Um exemplo disso é a morte de três escritores brasileiros e a queda de dois aviões, um na Rússia e um em Taiwan, sem falar no avião que ainda está desaparecido, desde sei lá quando. Primeiro João Ubaldo, depois Rubem Alves e agora Ariano Suassuna, tudo no mesmo mês, no mesmo ano, na mesma vida.
É uma perda irreparável para a literatura brasileira? Sim, claro que é, pois os leitores dos respectivos escritores terão que se conformar com obras póstumas, com releituras, com adaptações , nunca mais o original. Isso é chato e ate mesmo injusto, levar três escritores assim quase de uma cartada só pode ser brincadeira com a gente né não? Mas não há quem possa com isso, chegou a hora é fatal, todos nos iremos passar por esse acontecimento forte nas nossas vidas, um acontecimento que não saberemos como iremos reagir, como será a pós-morte, a ante vida, um segredo, um mistério.
Consagrados e velhos e milhares de adjetivos para esses três e outros que já se foram, saem de cena para entrar futuros escritores, não iguais, pois são insubstituíveis, mas com marcas, com estilo, com jeito desses que se foram.
Os religiosos pode até me criticar mas sabe o que eu acho que está acontecendo nessa hora no céu? Uma grande bienal do livro celeste, onde são escritos os livros da vida, da nossa vida, com a nossa historia e nosso destino. Agora termo Rubem, João e Ariano para ajudar a movimentar este enredo da nossa vida, dá mais movimentação, mais sonho, mais poesia. (Pronto, podem me julgar)
Ja imaginou aí Clarice Lispector abraçando Rubem Alves? Raquel de Queiroz batendo um papo com Ariano?
Caio Fernando e João Ubaldo conversando sobre poesias e pigmentos de amor? Eu imagino, estou a imaginar.
Só quero que o presente mês passe mais rápido, que agosto (o que tem fama de ser o mês do desgosto) venha curar as cicatrizes deijadas pelos acontecimentos julinos, pelas perdas, pelas ultimas crônicas , últimas poesias, ultimos contos, últimos romances, últimos abraços. O que nos resta é continuar aqui na labuta, caminhando um passo de cada vez para assim marcamos nossa geração como os tais.











Eduardo Sousa

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