domingo, 19 de janeiro de 2014

A vitrola de minha mãe

Toda sexta-feira era certeza a minha querida mãe limpar a vitrola, escolher um cantor na sua vasta coleção de vinis, todos pretos, com capas indecifráveis para mim, que era uma criança bem curiosa, mas era uma criança.
Minha madre tinha o maior ciúme de sua caixa de som, de sua vitrola, de seus discos pretos azulados, de sua estante de madeira persa com enfeites que se ganhava em festas de aniversários, batizados, casamentos e onde ficava o buquê que minha titia havia  pegando em um casamento.
Era incrível ver a minha mãe escutando os seus sons que iam de Reginaldo Rossi a Rita Lee, de Roberta Miranda a Belchior e por aí vai... eu ficava na minha rede amarela com minha chupeta na sala de casa e minha mãe no seu sofá vermelho cereja, com seus copos de cerveja ao som de suas beldades musicais.
Eu dormia escutando os lerêrê da Roberta Miranda, e os sussurros de Belchior  e  a cantoria da minha mãe, um pouco desafinada, mas dava para o gasto e me embalava a dormir.
Eram pois as suas cantorias de ninar para fazer o seu bebê ( no caso, eu) dormir e sonhar  com os anjinhos.
E foi assim que eu cresci, por entre discos de vinis, em uma casa com quatro mulheres e suas personalidades distintas. E minha mãe sempre escutando suas músicas na vitrola às sextas-feiras.

Eduardo Sousa

Nenhum comentário:

Postar um comentário