quinta-feira, 17 de julho de 2014

Não, não existe a sorte de um amor tranquilo

Quem me conhece sabe que arrumar quarto, por menor que seja (como o meu) não é nada agradável para mim, ainda mais quando ouso trocar alguns móveis de lugar, colocar a televisão ali, a cama pra outro lado etc. Mas se tem uma coisa que eu gosto e que acontece espontaneamente é descobrir coisas antigas que estão perdidas nas montanhas de livros, de papéis velhos e nas caixas decoradas com papel celofane roxo que eu guardo. É quase que igual a um baú sabe, mas não chega a tanto.
E no meio dessa bagunça toda estão as lembranças dos amores tortos que eu tive, dos relacionamentos relâmpagos, dos amores três por quatro, das emoções efêmeras. É tudo, tudo foi passageiro, passou rápido como um tiro de uma espingarda, foi como um trovão, vuuupt, passou. Entre os livros de história, geografia e a odiosa matemática, entre os cds e dvs young adult estão as agendas com papéis de bombons, com essência de perfume, com cartas de amor, com retalhos de paixão roubada, com uma pitadinha de desafeto atrelada à saudade. 
Me peguei pensando mais uma vez nessa loucura que é o amor, e finalmente cheguei a uma possível conclusão que pode aquietar o meu calejado coração, que de tanta chuva já pegou um resfriado e beira à carência. Mas o que me conforta que não sou o único nesta história, tem mais gente que desce comigo no mesmo ponto, na mesma parada, na mesma sintonia. Todo mundo, por mais rabujento, estressado, tímido, feio, bonito, caquético, teimoso que seja quer um amor verdadeiro, um amor que fique, que grude na pele feito tatuagem como diz a música do Chico, então isso já me traz uma sensação que não é boa, mas pelo menos tranquiliza um pouco sabe?
Nunca fui de ter muitos amores, ao contrário da minha turma de amigos e amigas que toda semana tinha um caso novo, um pra manhã, tarde e noite e eu queria um pelo menos para passar o meio dia. Arranjei alguns gatos pingados, que caíram na minha rede ou eu cai na rede deles? Nem eu sei explicar como aconteceu, mas aconteceu e passou, passou tão rápido que nem o perfume impregnou no meu travesseiro. No lugar disso ficou um cheiro insuportável de solidão, by alone in the night. Ficaram as lembranças, as mensagens enviadas pelo falecido msn, que tanto me ajudou quando eu precisava tomar a dose diária de algum caso. Lembro como se fosse hoje, ligando a web cam para presenciar o rosto da criatura que fazia o meu coração pulsar, quando o usuário ficava online, era uma festa interna, um rebuliço pelo simples fato de ter alguém, de ter um sapato pro pé. 
Mas falando sobre essa sorte de amor, não existe meu bem, meu bem, não existe a sorte de um amor tranquilo, se for tranquilo, se for normal, não é amor, não é o grande amor que a gente passa a vida toda esperando, nem aquele nosso primeiro amor, amor de quinze anos, quando a gente descobre o beijo, o abraço, o afeto, em que os hormônios ficam pulando feito pipocas na panela, isso é apenas o efeito de uma mísera paixão, amor mesmo deixa cicatrizes, amor de verdade faz você voar por entre as nuvens e o sentimento perdura por dias, meses, anos até que o acaso se encarregue de fazer o gran finale e que  o destino desfolhe as páginas escritas com tanta paciência.
Está aí outro ponto importante sobre o amor verdadeiro. O amor te deixa impaciente, te deixa com uma coceira, toda hora você quer falar com a pessoa amada, quer confidenciar segredos para ela, falar coisas que só ela deve saber. É a primeira pessoa que vem na sua cabeça quando planeja uma viagem, é a pessoa que te faz ter crises absurdas de ciúmes, sim sou adepto do ciúmes e acho que o ciúme é uma forma de protestar e de falar: "é meu e ninguém tasca". 
Mas para viver amores verdadeiros é preciso viver amores que não sejam verdadeiros mas que a gente pensa que são. Amores que venham pela metade, daqueles que não deixam saudades, que deixam apenas lembranças e a certeza de que não eram bons o suficiente.
Eu passei e ainda passo a minha vida toda atrás desse amor, onde está? onde está que não o vejo, ou será que não quero ver? Pensei ter encontrado aos quinze, mas não rolou por sermos de idades distantes e aquele velho clichê da idade que você já conhece. Pensei ter encontrado aos dezoito, mas não, era alarme falso, um falso amor que agora é estrangeiro em um país que não quero pronunciar o nome. Aos vinte me encontro aqui, escrevendo estas palavras, não sei para quem, para o quê, mas escrevo acreditando que viver um grande amor é questão de sobrevivência, de sobreviver ao cotidiano, a movimentação da cidade, a maldade alheia, a  todo revès que cai no nosso caminho. 
Super acredito em paixão à primeira vista, assim como acredito em ódio à primeira vista e vice versa, mesmo isso nunca ter acontecido comigo, pobre eu de mim. Um amor verdadeiro nasce, cresce , reproduz e no contrário dos outros, não morre. É preciso massagear os sinais do amor, é preciso cuidar, dar amor, dar banho, botar para dormir, só assim para ele não morrer.
Sei que ainda não existe a fórmula do amor e que nem existe a venda, mas de uma coisa tenho certeza de que quando existir eu compro, eu pego pra mim e náo largo mais. Meu bem, meu bem...









Eduardo Sousa

Nenhum comentário:

Postar um comentário