Ela tomou banho e pôs o seu vestido que sua mãe lhe dera como presente de aniversário. Um vestido lilás, com rosas bordadas e uma fita que ficava em forma de círculo na sua cintura fina. Estava fazendo dez anos de idade e parecia que já tinha uns vinte, pois era uma criança traquina, desmíolada, como os seus amigos a chamavam. Não tinha brincadeiras nada normais para uma criança de dez anos. Seu aniversário caíra em uma quarta-feira, repartindo a semana, então pensara que não daria ninguém em sua festa, que comeria os salgadinhos, os docinhos de chocolate, os brigadeiros com granulados coloridos e o bolo de aniversário sozinha.
Esse era o item mais esperado por ela, pois a mãe dissera que o bolo só estaria na mesa na hora do "é big, é big, é big,é big, é big, é hora, é hora, é hora, é hora, é hora..Então ela fantasiou. Fantasiou um lindo bolo grande, com glace branco e decorado com morangos bem vermelhinhos. Ou então no lugar dos morangos, poderia ficar os kiwis, que ela tanto adorava.
O dia estava fazendo um solzão e a rua estava bastante movimentada. O início da festa estava marcado para quatro horas da tarde. Já era quatro horas da tarde e ninguém tinha chegado. Começou logo a chorar, e a borrar a pequena maquiagem feita por ela mesmo no seu rosto redondo de bolacha. Ela exagerou tanto no blush que parecia que tinha caído de cara no chão. A água que escorria de seus olhos se misturou com o rosa choque do blush e ficou uma melecada só. Foi quando um primeiro convidado chegou. Um primo seu. Rafael. Para ela não contava , pois ele era da família e claro que não podia faltar. Ela queria mesmo era as suas amigas da escola. Onde estavam aquelas zinhas? Aquelas vaquinhas muchas? Os pensamentos da menina estavam loucos.
Deu cinco horas da tarde e nada. Só estava ela, sua mãe e Rafael, sentados na sala, rodeados de balões coloridos,de uma mesa com bastante doces e salgados, mas sem bolo. Foi então que ela perguntou do adereço mais importante da festa. Mais importante até do que os convidados, que até o momento estavam ausentes.E sua mãe nada disse.
Cleide,a mãe, já estava nervosa, se perguntando onde estariam os colegas de Cássia. Onde estariam? Foi aí que Cleide se lembrou da grande surpresa. Na mesa estava faltando o bolo de aniversário. Quando ela ligou os pontos já era tarde demais. Sua casa fora invadida por dezenas de crianças, com embrulhos enormes nas mãos, todo mundo entrou em fila indiana e entregou o presente para a aniversariante, que era Cássia. Todo mundo entrou, sentou e pegou um copo de guaraná e uns salgadinhos.
A melhor amiga de Cássia, perguntou :
-Cássia, mais cadê o seu bolo de aniversário? Você não fez? Na mesa só tem salgadinhos e doces. Cadê o seu bolo?
A menina olhou para a sua mãe, com milhares de perguntas. Onde estaria mesmo o meu bolo de aniversário com glace e morangos ou kiwis enfeitando? O-n-d-e e-s-t-á o m-e-u b-o-l-o maiiiiiê? Cássia ficou eufórica e não soube o que responder, quando ousou em falar , a porta da casa se abriu e Zélia, ajudante da casa, entra com um bolo de dois andares. Do jeito que ela queria, branco e com morangos bem vermelhos.
Ela ficou muito feliz, olhou para a sua amiga e piscou.
Então a festa continou. Com bastante música da Xuxa, brigadeiros, balões, salgadinhos, refrigerantes, bolo confeitado e a alegria estonteante de Cássia. A aniversariante da rua do Cais.
Eduardo Sousa
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