Nem só de flores vive uma mulher. Aliás, Vera nunca tinha recebido flores, muito menos bilhetes, ou pensando alto, bilhetes de admiradores secretos. Não, nunca, nada disso. Só recebera as injustiças e as decepções da vida, assim de mão beijada, tudo grátis. Tinha um caos no coração, uma reza que não dava jeito e uma sorte pra lá de ruim.
Vera era Vera, era só, era solitária, era humana, era cansada, era Vera, com v de vida, mas que na verdade não tinha nada. Ela era daquele tipo de pessoas, que a gente diz que só falta o caixão, pois a pessoa já está morta. Vera não andava, ela arrastava-se pelas calçadas da rua. Tropeçava nas linhas tênues de recife e da vida, principalmente desta última.
Era datilógrafa e não tinha muitas condições de ter uma vida luxuosa, tinha apenas uma "vida simples/humilde", isso mesmo entre aspas. Recebia pouco dinheiro, que não ressarcia de maneira algum, o curso que ela fizera mais cedo para aprender a bater na máquina de escrever. Aliás, isso era a única coisa que ela fazia bem, escrever as cartas para os clientes da loja onde trabalhava. Tirando isso, mais nada. Nada. Digo com frequência de que Vera esperava por uma coisa que não vinha, que não existia, que não tinha nome. Porém, ela em sua vá tentativa esperava, esperava e esperava. Ela comprava flores sempre, adorava rosas vermelhas da cor do sangue, desejava entregá-las a alguém, flores pras quem?
Eduardo Sousa
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