segunda-feira, 9 de junho de 2014

Marcas da infância

Ao contrário do que se pensa, ser adulto não é tão legal assim. Recentemente fiz vinte anos de idade e cá pra nós, cadê a graça disso? Queria mesmo era voltar a ter os meus oito, dez anos de idade, voltar para o tempo em que os únicos problemas era estudar pras provas parciais e bimestrais, não tinha nada de ap1, ap2 e muito menos artigo científico para fazer. Resumindo,  na infância tudo é moleza. Mas quando somos crianças desejamos tanto ser adultos, falar como adulto, comer como adulto,  fazer o que os adultos fazem...enfim, ser criança (sendo criança) é chato. 
Hoje conversando alguns minutos por telefone com uma amiga minha de infância, relembrei várias histórias sobre a minha época de criança, tem cada coisa que daria um livro, quem sabe até um best-seller. Tive a constatação de que estou escondendo uma mina de ouro, quem sabe um dia não publique essas estórias de um menino traquina como eu? Quem sabe...
Tive saudades das brincadeiras de esconde-esconde, de dar a volta completa pela rua, de pegar a minha bicicleta caloi verde água para andar na pracinha até os meus pés pedirem arrego ou cair no asfalto e ralar os joelhos, o que acabava acontecendo na maioria das vezes. Esse é um dos pontos negativos de ser criança. Criança cai muito, muito, mais muuuuito mesmo. Acho que enricava as farmácias perto da minha casa, comprando band-aind e álcool para passar nas feridas da infância. Lembro  de um episódio interessante...
Estava eu brincando com os meus outros colegas de corrida. Cada um pegou a sua bike e  foi dada a largada. Eu disparei na frente como um louco, pedalava tão rápido, mas fui ultrapassado por outra bicicleta, depois dei a volta por cima e consegui chegar em primeiro lugar, só que, porém todavia, entretanto, como dizem por aí (alegria de pobre dura pouco), eu cai assim que ultrapassei o ponto de chegada, meu pé devido às minhas pedaladas drásticas entraram na roda da bicicleta e a queda foi feia. Foi feia! 
O mais engraçado de tudo é que enquanto os outros chegavam  e riam da minha queda, eu me levantava, limpava o areal que tinha se apossado em mim, pegava a bicicleta e andava rumo à minha casa, não chorava, não demonstrava nenhum resquício de choro ou tristeza ou vergonha, na frente deles eu era forte. Mas daí quando ultrapassava a porta da minha casa, o meu mundo caia. Caia em choro, em prantos, em gritos, enlouquecia a minha mãe, dizia que ia morrer, que o corte tinha sido feio demais e blá blá blá...
Minha mãe, sempre tão atenciosa e preocupada comigo, limpava os ferimentos com água oxigenada, eu desmoronava em choros, parecia que estavam colocando ácido úrico na minha pele, eu não entendia o porquê tanto que esse troço doía nos ferimentos, mas hoje, ah, hoje eu entendo.
As feridas da infância hoje não doem mais, muito pelo ao contrário. Até doem, mais a dor é de saudades. Saudades de um tempo em que só as cicatrizes de quedas, fotografias manchadas e conversas noturnas  com amigos podem fazer lembrar e jamais esquecer. 








Eduardo Sousa


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