quarta-feira, 25 de junho de 2014

Arte na Praça



A Praça do Ferreira guarda muita história, muita cultura, muita realidade e situações que ficam para sempre na memória dos milhares de transeuntes que passam por ela todos os dias. Guardo uma comigo, que é muito especial. Em meio aos senhores sentados nos bancos de madeira, anatômicos, ergonômicos, um ao lado do outro, encontrei Dona Lúcia, esta simpática senhorinha da foto, que pousou para mim, com um sorriso no rosto em frente ao simbólico relógio da praça, que é muito grande, só não maior que o Big Ben, em Londres, claro, mas para terras alencarinas, é um monumento grandioso e que já presenciou acontecimentos muito importantes para a história da cidade, sendo um pouco exagerado, épicos.

Por entre as minhas andanças à tardinha, aproveito para fazer uma atividade de Fotojornalismo. Dentre os diversos temas que estavam chacoalhando na minha cabeça, escolhi fotografar a Praça do Ferreira, visando mais o movimento cultural que acontece lá, toda a movimentação das artes de ruas e dos artistas independentes, alternativos e óbvio, talentosos. Tinha a certeza de estar no lugar e na hora certa.

Assim que cheguei à Praça, uma coisa de extraordinário estava acontecendo: não havia nenhum artista na rua, nenhum sequer, ninguém tocando flauta, nem zabumba, muito menos guitarra. Nenhum ser vivo pintando ou desenhando, cantando, dançando, encenando, nada, nothing. Digo para mim mesmo que pode ser por conta do horário, pois tinha chegado muito cedo à Praça, as lojas ainda estavam abrindo, as pessoas andavam depressa para irem aos seus trabalhos, outros dando uma fugidinha do ofício, indo apenas passear ou fazer comprar no Centro e eu com uma bolsa pesada com livros e uma câmera na preta com vermelho na mão, à espera de bons cliques, de bons personagens, de boas histórias. E nada. O tempo foi se esvaindo e nada, o sol ficava cada vez mais forte, não me atrevi a tirar os óculos escuros, pois se tirasse, perigava ficar cego instantaneamente, por conta da claridade solar.

O calor aumentava, o suor saia pelos poros da pele, o protetor solar teimava em derreter. A sede e a fome mandavam lembranças, assim como o desejo de mostrar um bom trabalho para o professor da disciplina. E eis que vejo lá no fundo uma figura prata, pensei imediatamente que fosse a estátua prateada que praticamente morava ali nas dependências da praça. Acertei, era sim, era a Dona Lúcia, a estátua prateada que com a sua simpatia e sorriso no rosto, apesar do sol, pousou para a minha câmera, feliz da vida. Compartilhou comigo a sua vida, em rápidos vinte minutos, fiquei sabendo de quase toda a sua vida, que trabalhava como estátua para arrecadar um dinheiro e tentar a vida em Sampa, a cidade frenética e borbulhenta, ah saudades de Sampa!

Não me atrevi a contar sobre mim, pois diante de suas histórias e conversas, as minhas sairiam perdendo feio, seria de 10 a 0, com certeza ela ganharia de goleada. Lembro como se fosse hoje, ela tirando o batom da bolsa para ficar mais bonita nas fotos, segundo ela, colocou mais tinta prata para esconder as rugas e abriu um sorriso que me contaminou com sua alegria. Tirei todas as fotos possíveis, escolhi as melhores e mostrei para a nota de fotojornalismo. Foi um dia lindo, encantador, Dona Lúcia, mora hoje nas minhas lembranças, nas lembranças da praça, das vidas e histórias de lá. Dona Lúcia, é uma arte viva na praça. 






Eduardo Sousa








Nenhum comentário:

Postar um comentário