domingo, 8 de junho de 2014

C de Clarice




Clarice Lispector só existiu uma. Porém, nessa única pessoa, existiam diversas personalidades. Clarice mãe, cronista, contista, jornalista, misteriosa. A Clarice cronista pega o leitor pelo braço e diz “vem comigo”, fazendo dele um companheiro de aventurar, alguém que escuta o que ela fala. Em textos leves e saborosos, o poder de inquietações se mantém como marca da autora, que busca o que não tem nome, como ela mesma falou. “Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.” A Clarice jornalista, poucos conheciam. Seus primeiro registro em carteira de trabalho foi no jornal A Noite, como repórter. Desde então, fez de tudo nas redações cariocas dos anos 1940. 



Obra
Clarice buscava atingir com suas obras, as regiões mais profundas da mente dos personagens para sondar complexos mecanismos psicológicos, ela atinge também o âmago do leitor, deixando sempre, como dizem uma pulga atrás da orelha. As personagens criadas por ela, descobrem-se num mundo surreal, absurdo, está descoberta dá se geralmente diante de um fato inusitado. Para Clarice, “Não é fácil escrever. É duro quebrar rochas. Mas voam faíscas e lascas como aços espalhados”. “Mas já que se há de escrever, que não se esmaguem com as palavras as entrelinhas.” “Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo”.
Predomina em suas obras o tempo psicológico, visto que o narrador segue o fluxo do pensamento e o monólogo interior das personagens. Características físicas das personagens ficam em segundo plano, muitas não apresentam sequer nome. Apesar da escrita difícil e de ser considerada hermética, a escritora tem uma legião de leitores apaixonados por seus mistérios e ávidos por suas incógnitas e surpresas.

Juliana Formiga, jornalista e professora universitária, conta que seu primeiro contato com Clarice lhe levantou muitas dúvidas e incertezas. “Tive contato com a obra da Clarice no 1° semestre de jornalismo, pelo livro “Um aprendizado ou o livro dos prazeres. Cheia de dúvidas e ansiedade, devorei o livro dem 3 dias. Eu tive a sensação que eu não precisava compreender”. Ela avalia o lado pessoal da escritora como uma vida de inquietações e que tem vários traços melancólicos. “A marca do sofrimento é um dos traços constantes em sua vida. Uma negatividade diante do mundo, um desassossego constante, assim como as suas personagens.”

Para Juliana, o livro mais inquietante de Clarice é A Paixão Segundo G.H, por conta da “potencialidade melancólica”. “Nesse livro, ela leva às últimas consequências a experiências de exprimir o que não pode ser inteiramente verbalizado, tentando se encontrar consigo mesmo.” Já para Elaine Cristina, designer de moda,o livro mais inquietante de Clarice é A Hora da Estrela, onde a escritora narra com um pseudônimo de Rodrigo S M, que conta a vida simplória de Macabéa, uma de suas personagens mais marcantes e abordada pela crítica. “Acho que Macabéa é um pouco da própria Clarice, que tinha momentos de alegrias e tristeza ao mesmo tempo, era paranoica, misteriosa e queria o indesejado.” 

Muitos críticos afirma que Clarice Lispector é a pioneira no emprego da epifania na prosa brasileira. No sentido literário, a “epifania” é um momento privilegiado de revelação quando acontece um evento ou incidente que “ilumina” a vida da personagem. Enfim, podando os excessos e relevando os modismos, Clarice figura entre os melhores escritores da Literatura Brasileira.





Eduardo Sousa

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